Casos de Sucesso: Em nome da família, a superação de todas as adversidades

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Para alguns, a vida nem sempre é bela. Tampouco se apresenta fácil, desde o princípio. É o caso de Maria do Sol Vasconcelos, carioca, cuja primeira infância foi marcada por grave acidente, que poderia ter reduzido seu destino a um vale de sombras. "Não tenho os dois pés, que perdi em função de uma queimadura sofrida aos 45 dias de nascida. Caminho com próteses e uso de uma ou duas muletas. Faço tudo, mas como a pele no local é queimada, costuma ferir. Isso faz com que eu tenha que medir o quanto permaneço em pé ou sentada, preservando minha saúde física". Se o relato inicial impressiona, o que dizer dos capítulos seguintes... Engana-se quem aposta que o depoimento a seguir será marcado por sentimentos de dor. Ou pelo compartilhamento de frustrações.

Aos 36 anos, a trajetória de Maria do Sol traduz-se em uma palavra: superação. Do ponto de vista profissional, fez uma aposta certeira na área de concursos. E, logo na sua primeira investida, levou o grande prêmio. "Prestei o concurso do INSS porque na época estávamos com sérias dificuldades financeiras e sem muitas perspectivas". Em tempo: ela fala mesmo no plural - e por uma razão bastante simples, embora numerosa. "Sou casada com um marido maravilhoso, somos unidos e nos amamos muito. Tenho cinco filhas, hoje com idades de três, seis, dez, doze e quinze anos. Moro na zona rural de Pirenópolis desde 1998, cidade turística do interior de Goiás".

Feita a apresentação familiar, o foco volta a ser o concurso. "Já havia tentado vagas para deficientes em diversos locais, na iniciativa privada, mas não me contratavam. Já estava pensando em concurso há algum tempo, pois tenho muitas amigas concursadas em Brasília e, como uma agência do INSS iria ser aberta aqui na cidade, decidi investir tudo. Me dediquei exclusivamente, mesmo estando há mais de 15 anos sem estudar. Ainda que morando na fazenda, com cinco filhas, minha motivação e falta de opção eram tantas que passei logo em meu primeiro concurso. Fui classificada para técnico do seguro social, em primeiro lugar, para Valença, na Bahia. Tomei posse em 14 de junho de 2012, um dia histórico para mim!", conta Maria do Sol que, formada em Artes Plásticas, tem interesse por assuntos diversos, como a defesa da ecologia e dos partos naturais, causas que defende em blogs.

Ela descreve a sensação experimentada quando recebeu a notícia de sua classificação. "No dia que vi meu nome na lista dos aprovados confesso que o sentimento foi de alívio indescritível, tanto pela conquista quanto por não ter mais que estudar. Adorei todo o processo de estudos, mas claro que é um período no mínimo intenso, uma fase necessária que passou. Foi um ano de minha vida dedicado inteiramente a livros e apostilas. Mesmo tendo sido para vagas especiais, o nível da concorrência foi alto. E é um concurso federal!", festeja ela que, apesar de toda a legislação que protege os direitos dos deficientes, deparou-se com situações de desrespeito - veja só! - também na esfera pública. Problema que hoje enfrenta, como era de se esperar, sem esmorecer.

"Como deficiente, entrei para as vagas especiais porque sabia que, com a Lei 8112/90, caso não conseguisse cumprir o horário todo por conta de minha dificuldade física, teria a possibilidade de redução pela concessão de horário especial, sem redução salarial. No entanto, tenho enfrentado sérias dificuldades quanto a isso. Consegui a concessão por junta médica oficial e, quando fui removida por motivo de saúde para Pirenópolis, fizeram nova junta e, neste momento, retiraram meu horário especial. Por motivos óbvios, entrei em licença várias vezes, o que causou sofrimento. Atualmente, diminuí minha carga horária com proporcional redução salarial, por não ter conseguido ser ouvida", lamenta ela que, mesmo diante da insensibilidade do INSS, conta a razão que a levou a buscar uma vaga no Instituto.

"Eu queria trabalhar especificamente aqui por acreditar que posso contribuir pela questão social do país. No entanto, se eu verificar que preciso de um lugar onde os deficientes sejam ouvidos em suas dificuldades, e caso veja que preciso de um salário maior para sobreviver, quero tentar novamente o concurso para o Senado", adianta Maria, lembrando que já prestou essa seleção. "Na época, ainda antes de saber se havia passado no INSS, por insegurança e precaução, decidi tentar a sorte no Senado. Estudei bastante, mas somente nos dois últimos meses e, claro, não passei".

Para quem está mergulhado no processo de preparação para concursos, Maria do Sol dá algumas dicas especiais, a partir de sua experiência exitosa. "Eu comecei minha trajetória de concurseira do zero e sozinha. Eu, Deus e a internet. Realmente não sabia bulhufas sobre como estudar. Mãe de cinco filhas, sem grana, com empregada somente meio período e com uma deficiência física que me impedia de agilizar boa parte das coisas que facilitariam a liberação de tempo para me dedicar, sempre me perguntava: o que fazer?". A receita adotada, que a levou ao sucesso, traz ingredientes diversos, dentre os quais destaca-se a persistência.

"Eu sabia que muita gente estudava por anos para concurso, e isso me amedrontava, é lógico. Por isso deixei todas as atividades paralelas, comprei uma apostila para o INSS e separei, inicialmente, duas horas para estudar. O edital estava para sair a qualquer momento, mas só saiu um ano depois disso. O que eu tinha, de fato, era motivação. Minha motivação era minha família, que precisava, de uma vez por todas, de uma estabilidade financeira e, sem formação que me proporcionasse outros caminhos e despesas maiores que a profissão de autônoma me proporcionava, o concurso público me pareceu a trilha mais sensata a seguir. Ainda que não pudesse ter certeza de que iria passar, eu teria que tentar, e com todas as minhas forças, pois não poderia ficar muito tempo estudando".

Ao começar a ler a apostila, Maria do Sol ficou desesperada. "Não entendia nada! Depois de uma semana tentando, sem muito sucesso, decidi procurar um curso online. Paguei e, embora não tenha gostado muito, ele foi importante para o processo de organização. Comecei a ler blogs, passagens de livros e depoimentos para me orientar melhor. Lia Salgado, por exemplo, foi uma fonte importante. Como estava sozinha, os blogs também foram essenciais para entrar em contato diariamente com quem estava na mesma situação que eu. Ali fiz amigos de verdade, tive um grupo que motivava um ao outro constantemente e que dividia desafios, desabafos, dúvidas e dicas. Fui aumentando meu tempo diário de estudos para trê shoras, depois para quatro, passei um bom tempo estudando seis, sete ou oito... E, após a divulgação do edital, estudava até dez horas por dia. Me dividir com as crianças era um desafio, mas me sentia tão motivada, tão positiva e confiante, que gostei muito de todo o processo. Hoje sou uma pessoa melhor, mais organizada, positiva e confiante".

Para encerrar, Maria do Sol deixa uma mensagem para aqueles que sonham em ingressar no serviço público, em especial para os concurseiros que tenham alguma deficiência, e que já enfrentam tantas barreiras diárias - boa parte delas fruto de uma sociedade que pouco preza pela inclusão dessa parcela da população. "Primeiro de tudo: confie em você mesmo. Mantenha sempre um pensamento positivo, escreva diversos papeizinhos coloridos com frases que te motivam e coloque em seu espaço de estudos. Eu costumava escrever quase diariamente a frase: 'menos um dia para a posse'. E eu realmente sentia isso!", relembra ela, que, orgulhosa, faz um pedido final nesta entrevista, feita por e-mail. "Segue a foto, que foi tirada no aniversário de 15 anos de minha filha, em abril deste ano. Pode recortá-la, se precisar somente de mim na imagem. Mas queria que conhecessem minha amada família". Taí, Maria. Pedido feito, pedido aceito.

Confira algumas dicas práticas de estudo de Maria do Sol

"Faça um plano de estudos. Esse tópico é a chave. Antes do edital: seja realista quanto ao seu tempo disponível. Ao verificar quanto tempo tem para estudar, terá que dividir cada matéria por prioridade. No início conseguirá estudar menos, é normal. É fundamental escolher um concurso específico, focar nela toda a sua atenção. No edital anterior aparecem quantas questões por matéria e qual o peso de cada uma delas na prova. É importante também frisar as matérias nas quais tem mais dificuldade, pois estas fatalmente serão bem mais difíceis de assimilar. Pegue um papel ou arquivo de computador e digite as matérias a serem estudadas. Divida o tempo. Por exemplo, se tiver duas horas, separe uma para as matérias principais (no meu caso, Direito Previdenciário e Português). E a outra hora divida entre as secundárias. Se precisar de mais tempo em uma matéria, separe um sábado para vê-la em destaque, por exemplo. Mas, por experiência própria, o melhor é ver todas as matérias todos os dias.

Finais de semana são para descanso, mas pode separar metade de um sábado e até o sábado todo para estudar aquela disciplina em que tenha mais dificuldade. Eu aproveitava, na verdade, para fazer exercícios, de acordo com o tempo de divisão das matérias que usei para a semana. Não se afobe demais. Como diz a Lia Salgado: 'concurso é maratona, não corrida de obstáculos'. Durante todo o processo dos estudos é importante ter pedaços de papel - que serão as chamadas fichas-resumo para ir marcando tópicos importantes da matéria estudada. Uma vez por semana, volte neles e dê uma lida. Também pode colar na parede vários destes, bem coloridos, para ler ao estudar. Mais para o final dos estudos, quando já estava mais madura, a melhor forma de organizar-me foi fazer duas tabelinhas bem simples: uma com a divisão das matérias por hora, o que seguia diariamente. E outra com o que estava estudando em cada matéria. Foi o esquema que funcionou melhor para mim".

* Se você também conquistou sua vaga no serviço público e é um exemplo de superação, envie seus contatos para o e-mail casosdesucesso@folhadirigida.com.br. Em breve, sua história poderá ser contada nesta coluna. Fonte : Folha Dirigida



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