Faz algum tempo, li uma pessoa dizendo que “concurso não é a panacéia de todos os males”. Gostei, realmente não é.
O que me motivou a escrever o texto de hoje foi ouvir uma criatura dizer que acha o concurso “a morte de todos os sonhos e talentos”.
Ui.
O que me preocupa é que algum concursando ouça essas frases pessimistas e, por estar cansado ou mal esclarecido, acredite nelas.
Se fazer concurso acreditando já é difícil, imagina com os conceitos errados!
Quem for prestar concurso precisa acreditar que essa opção vale a pena. Se não for assim, melhor nem tentar: a pessoa deve investir no que realmente acredita.
Eu acredito em concursos e direi o porquê neste artigo.
Outra coisa que me preocupa é a pessoa que começa a falar mal dos concursos assim como a raposa concluiu que “as uvas estão verdes”.
Sempre digo que concurso resolve uma série de problemas, mas não todos, e também costumo dizer, nas palestras, que “ser feliz é melhor do que passar em concursos”. Meio-plágio da frase do meu amigo Roberto Shinyashiki.
Aliás, eu, ele, o Lair Ribeiro e o Augusto Cury temos boas relações de amizade e estamos acostumados às críticas rotineiramente direcionadas aos autores chamados de “auto-ajuda”. Já pensei em escrever sobre isso: o preconceito contra o estilo “auto-ajuda”, mas este não é o tema de hoje.
Na verdade, o crescimento dos concursos públicos gerou também o crescimento dos que atacam essa opção. Não me refiro aos inimigos históricos dos concursos: o nepotismo, o cargo em comissão, o apadrinhamento político, o fisiologismo, os “concursos” fajutos, as fraudes, as seleções por currículo, a imoralidade das ONGs e assim por diante. Há inimigos novos: as pessoas que dizem que concurso não é isso tudo, não é aquilo, é a morte dos sonhos e dos talentos, que o Brasil precisa disso e daquilo.
Ora, claro que o Brasil precisa disso e daquilo. Precisa de bons engenheiros, bons administradores, empresários, artistas, escritores, marceneiros. Precisamos de tudo.
O que não precisamos é informação equivocada.
Também precisamos de bons servidores públicos: competentes, dedicados, talentosos, pessoas que saibam servir, que cumpram o dever, que sejam honestas, que não sejam arrogantes, que tratem as pessoas como gostariam de ser tratadas. Pessoas que façam sua parte e, depois do expediente, façam o que preferirem.
O concurso não é a morte de todos os sonhos e talentos. Primeiro, porque conheço gente que sonhou a vida toda em ser delegado de polícia, e hoje é. Conheço quem quis ser dentista, e hoje é dentista do Tribunal, da Marinha etc. Para eles, não foi a morte do sonho.
E o talento? Por exemplo, é preciso talento para ser um bom policial. Outro dia, na Ponte Rio – Niterói, vi uma equipe trabalhando tão bem diante de um acidente e, em seguida, incidente (briga, bêbados, abusados etc), que tive orgulho da Polícia Rodoviária Federal. Tudo gente nova, concursada, trabalhando de um jeito primoroso. Pessoas talentosas. Pode ser que façam outros concursos (um deles me contou que está fazendo Direito...), mas pode ser que sejam como minha Diretora de Secretaria, na 4a. Vara Federal de Niterói, que optou por não fazer outros concursos e ser, com orgulho, competência e talento, o que é: serventuária da Justiça.
Assim, informo que há muita gente com sonho realizado, e muita gente talentosa, trabalhando no serviço público. Tenho orgulho deles.
Esses servidores continuam vivendo num país em guerra civil, com uma carga tributária vergonhosa, tendo que resolver os problemas de saúde, família, amor, além dos outros que surgem diariamente, mas com estabilidade, bons salários e uma série de prerrogativas.
E servem ao povo. Servir ao povo é uma bela carreira.
Ah, e aquele sujeito talentosíssimo para a outra coisa e que se deixou morrer no serviço público?
Bem, a culpa – se existe – é dele, não do serviço público. Eu conheço vários que trabalham dignamente no serviço público e se dedicam a outros prazeres fora do expediente. E estão com as contas pagas. Ou o poeta vive só da poesia, o que é bonito, ou o poeta pode ser poeta e servidor público (como, por sinal, é tradição brasileira ter grandes escritores no serviço público). Que mal há nisso?
Conheço quem virou AFRF até montar seu consultório dentário e depois pediu exoneração, aliás, abrindo mais uma vaga para quem vinha chegando. O concurso, para ele, foi o que possibilitou a realização de um sonho (“a porta para o sonho”). E conheço até quem é juiz federal e trabalha à noite e nos finais de semana falando sobre como passar em concursos. Prazeres diferentes e concomitantes.
Vou falar um pouco do meu caso. Eu amo ser juiz federal. Tenho orgulho disso, me sinto útil servindo à coletividade, tenho uma excelente produtividade (graças não só a mim, mas a uma equipe extraordinária de servidores competentes, dedicados e talentosos), uma série de prerrogativas etc. E nem por isso todos os meus dias são cor-de-rosa.
Há dias em que acho muito bom ser juiz, e há outros em que quero largar tudo. Tenho um dos cargos mais cobiçados da República e nem por isso estou livre de dias ruins. Há dias ensolarados e dias sombrios; dias em que acho que vale a pena ser juiz, outros em que acho que não.
O fato é que o serviço público não é o único oásis onde bebo. Tenho outros sonhos, projetos, família, igreja, poesia, corrida etc. Nem o sujeito que só quer ser juiz ou delegado pode se dar ao luxo de esgotar toda sua existência em apenas um oásis.
Assim, eu sou um caso de alguém que pagou o preço para passar, que trabalha como servidor e que também investe sua vida em outros projetos.
Se quiser ser só poeta e não separar tempo para trabalhar noutra coisa, tudo bem; eu que peça exoneração e vá viver minha vida. Mas se não consigo ou banco viver só de e da poesia, a culpa é minha: não devo ficar reclamando da vida nem da outra coisa que eu for fazer. Isso me cansa: pessoas que ficam reclamando de tudo em vez de resolverem suas vidas.
Você pode decidir: se quer ser poeta e tem asco de fazer outra coisa, vá ser poeta e não reclame da vida. Terei orgulho de você. Mas se quer ser poeta e acha que pode estudar, passar em um concurso, e ser um poeta que tem estabilidade, bons vencimentos etc, que serve ao semelhante durante parte do seu dia, você é um concursando em potencial. Faça o que tiver de ser feito e seja poeta e servidor público. Também terei orgulho de você.
Seu prazer é outro que não a poesia? Hum... a arte, qualquer delas, a música, a dança, os passeios, o convívio com os filhos? Escolha: a poesia pode tomar qualquer formato. Não sou um parnasiano.
Hoje escrevi para dizer que o concurso pode ser o sonho, ou o caminho para o sonho, ou só a forma honesta e digna de pagar suas contas. Não importa. Se o seu sonho é outro e nele não há lugar para o concurso, não sinta culpa: vá viver sua vida. Mas por favor, não fale das pessoas que optaram pelo concurso como uma carreira, um caminho ou um ganha-pão.
No poema “O convite”, Oriah Mountain Dreamer diz: “Não me interessa saber onde você mora ou quanto dinheiro tem. Quero saber se, após uma noite de tristeza e desespero, exausto e ferido até os ossos, é capaz de fazer o que precisa ser feito para alimentar seus filhos”.
Se você só está no concurso para alimentar seus filhos, cara, eu tenho orgulho – muito – de você.
Se você está aqui, no serviço público, de passagem ou para bancar outros sonhos, ótimo também. Espero que seja um bom servidor, tanto quanto o que só fez concurso pelos vencimentos.
Se quer ser servidor mesmo, se é seu sonho, eu quero lhe dizer que você escolheu uma carreira honrosa, digna, útil ao país e ao planeta.
Em suma, eu não quero saber se você, concursando, está cansado ou se o que quer é alimentar os sonhos, os filhos ou outra coisa. Também não me importa onde mora ou o quanto ganha, pois sei que a felicidade, assim como sua rival, se esconde em todos os bairros e em todas as contas bancárias, qual seja o tamanho que venham a ter.
Também sei que quem passa em concurso melhora de vida.
Eu escrevo para dizer que tenho orgulho de você, concursando, que está fazendo o que precisa ser feito, pelos seus motivos (pois, afinal de contas, a vida é sua).
Não se assuste nem melindre com pessoas sem paciência, sonho, garra ou problemas suficientes para ir em frente e escolher um caminho para se resolver.
Não tenho grande apreço por quem não faz uma coisa, não desiste dela, e ainda não aprendeu a respeitar as decisões que você tomou.
Se você é um concursando, eu tenho orgulho de você.
Tenho visto muitos concursandos sofrendo... a coisa é trabalhosa. Tem hora que parece que está roendo até os ossos. Sim, mas e daí? Como digo no livro sobre Maratona, são os fortes que sentem dor. Os fracos desistem. Se você está “ralando”, sofrendo, é porque é forte. Um sujeito mais fraco já teria arrumado uma desculpa, ou um culpado, e caído fora.
Como diz meu mantra, “a dor é temporária, o cargo é para sempre”.
Continue assim, fazendo a coisa certa, se aperfeiçoando, estudando, treinando, que o cargo será seu, mais cedo ou mais tarde.
Uns estão estudando e fazendo as provas, outros estão fazendo discursos, críticas e observações maldosas, invejosas, medrosas etc. Wilde disse que “estamos todos na sarjeta, mas alguns estão olhando as estrelas”.
Eu estou olhando as estrelas das armas da República. Eu a represento como juiz federal, você vai representá-la, mais cedo ou mais tarde, em algum cargo, emprego ou função, todos nobilíssimos, para quem tem garra e coragem de ir em frente.
Parece ufanismo? Não sei se algo que acontece, que funciona, pode ser chamado de ufanismo. Concurso funciona.
Parece coisa de autor de auto-ajuda? Tudo bem, eu sou autor de auto-ajuda, então. Sem problema, eu não tenho vergonha, mas antes um justo orgulho de poder ajudar o próximo. Técnicas? Estão nos livros. Motivação? Também. Afinal, como disse, não tenho problemas em ser tachado de autor de auto-ajuda por, de fato, exercer essa tarefa em parte de meu cotidiano. Ter sucesso em concursos, em qualquer coisa, demanda uma combinação de motivação e de técnicas. Eu trabalho com ambas e estou feliz com os resultados. Funciona, simplesmente funciona.
Antes isso do que ficar falando de quem está correndo em busca de alguma coisa. É preciso buscar a própria felicidade. O concurso é uma opção válida. Se você quer fazer, faça direito; se não quer, respeite a opção de quem quer e gaste suas energias naquilo em que acredita.
O importante é cada um buscar sua felicidade.
Para concluir, uma sugestão para você, concursando: se alguém estiver lhe aborrecendo com essas historinhas de que concurso é uma coisa ruim, sugiro que imprima esse texto e entregue à pessoa, com meu carinho e meu abraço. Peça para ela deixar você tocar sua vida, fazer suas escolhas, colher os frutos que cada escolha proporciona. Peça para ela não ser uma rádio que toque uma música fúnebre ou desagradável. Ou o silêncio ou elogios, ok?
Como dizia Ted Turner, “lidere, siga ou saia do caminho”.
Willian Douglas
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